Há quem diga que Logística é Arte. Parece ter vida própria — evolui por si só, seduz, encanta, estressa. Tira o sono, cansa.
Logística é mesmo arte; é ciência; às vezes indecência. Sabe de sua importância, talvez por isso, maltrata a quem dela cuida e muito mais de quem descuida.
Pode promover, favorecer, nutrir, articular, incrementar, alavancar. Assim como: estorvar, impossibilitar, dificultar, embaraçar, atrapalhar. Experimenta esquecê-la. Ela tem sentimentos.
Ousada, folgada; abusada. É dona de uma linguagem toda própria — um vocabulário peculiar, particular; só seu. Quase que um dialeto. Cheio de siglas, termos, expressões; divagações:
CT-e, GRIS, SPOT, MILK-RUN, CROSS-DOCKING, CIOT, PIS, CONFINS, CPMF, NF, MDF-e, XML, ABC, ACF, CFOP, CRF, CIF, FOB, FIFO, FIO, GIS, HUB, OTIF, OTM, PEPS, RFID, RNTRC, SLM, SKU, WMS, chegaaaaaa.
Quem é logístico é apaixonado, maluco, tarado pelo que faz. Sabe encontrar até ponto G em caminhão; na esposa talvez não, mas não deixe cair seu queixo, é por um bom motivo: evitar excessos nos eixos (que rima infame).
Caminhão é cavalo, carro, às vezes trucado. Toco, médio, treminhão, bitrem, rodotrem e mais alguns trens. Motorista vive na boleia, bate alavanca, põe na banguela. Carroceria são abertas, fechadas, baú, graneleira, sider, e tem até “homenagem” a cantora Vanderleia (eixos espaçados como pernas cambotas).
Pra fazer logística é simples, basta gostar da estrada, se acostumar com a falta de acuracidade do pessoal de casa, da impaciência de quem vendeu e da intolerância de quem recebeu.
Gostar da loucura é obrigatório mermão, tem que lidar com a desordem tornando-se ordem nas curvas do ABC, tem que ser amigo do relógio, do Just-in-time, das janelas agendadas e parceiro dos amigos inseparáveis: FIFO, FEFO E LIFO.
No Brasil temos uma bela costa marítima e rios, mas não usamos a navegação como deveríamos. Mesmo sendo uma terra plana para ferrovias, os bitolados usaram 8 bitolas ferroviárias diferentes.
O profissional de logística Tem que driblar o caos das megalópoles e as deficiências de um Brasil escravo de rodovias sem infraestrutura.
Gostamos do nível hard.
Ok. No problem.
O melhor da logística são os profissionais: que sem “exagero nenhum”, poderiam ter mudado a história e a mitologia como conhecemos:
— Um bom logístico roteirizaria um atalho para Ulisses retornar a Ítaca. Usando uma planilha de Excel responderia ao enigma da Esfinge antes de Édipo, e determinaria melhor rota para atingir Tebas. Realizaria a conferência e armazenagem do cavalo de Troia fora dos muros. Encontraria a localização do Graal. Um profissional de logística teria facilitado, e muito, os 12 trabalhos de Hércules e, sem dúvidas teria contribuído para melhor acuracidade histórica.
Mas falemos de problemas convencionais — e esses tem aos montes:
— A carga não coube no caminhão, o pedido expirou, o Sefaz não integrou, o produto x não foi encontrado; corta da nota, mas já foi impressa. O cliente não quis receber, estoque cheio, preço divergente, estamos em inventário.
Coisa de gente sabe!
Preocupações? Isso sim tem que ter. Pré-ocupação. Para que na hora tudo dê certo — processamento de pedido (Como os pedidos devem ser atendidos?); — armazenagem (Onde os depósitos devem ser localizados?); — estoque (Que nível de estoque deve ser mantido?).— e, transporte (Como os produtos devem ser despachados e em que time?).
Errar é humano, mas na logística é insano. Errou? Tudo bem, mas saiba que custa caro — “Caminhão é como esposa” — tem custo fixo e variável. Motorista também. Nas entregas somos como um hotel — as diárias rolam soltas.
Perdeu a janela? Reentrega. Errou no tamanho do veículo? Paga dois fretes. Existem taxas pra tudo, generalidades aos montões, nesse quesito a logística parece mesmo Brasil (guardada as devidas proporções).
Deseja ser profissional de logística?
Aprenda a ser garçom, mágico, equilibrista e tenha alma de artista. Entenda de atracamento de navio a acasalamento de muriçoca — tributação, mecânica, Legislação. Geografia, matemática, física e psicologia.
É desafiador, não tem um dia como o outro, todos são diferentes. Talvez seja isso que seduz. Fazer logística é fazer arte, é encantar, nutrir, levar sonhos e vida aos cantos mais remotos do país.
Essa é uma singela homenagem aos profissionais de logística. Verdadeiros artistas.
Até a próxima!