Gênio, subversivo, politizado, metafísico, filósofo, idealista e além de tudo um profeta. Raul Santos Seixas, famoso artista do cancioneiro autoral, foi alguém totalmente a frente do seu tempo.
E graças à crise causada pela pandemia do coronavírus (Covid-19), ele carimba de uma vez por todas seu passaporte para o Olimpo dos profetas mortos.
Raulzito, que afirmava ter nascido há dez mil anos atrás, em seu sétimo álbum; o dia em que a terra parou, de 1977 (43 anos atrás), profetizou sobre o tempo que estamos vivendo, através da música que leva o mesmo nome do seu álbum O Dia em que a Terra Parou:
“Essa noite eu tive um sonho, de sonhador, Maluco que sou, eu sonhei… Com o dia em que a Terra parou (ôô), com o dia em que a terra parou (ôô)…
…foi assim:
“No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro, resolveram que ninguém ia sair de casa, Como que se fosse combinado em todo O planeta, Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém” …
A música, que voltou ao topo das playlists tupiniquins, impressiona por tamanha assertividade profética.
O que sem dúvida nenhuma é capaz de fazer com que nomes como o do profeta Nostradamus se revolvam de inveja no túmulo.
Se por sorte ou não, o cantor e compositor brasileiro profetizou, e, no momento que digito essas linhas, mais de um terço da população mundial está em quarentena para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.
Números que podem e tendem a aumentar conforme os dias vão passando.
CAOS NA SAÚDE x CAOS NA ECONOMIA
No Brasil e em outros países do mundo, entre eles algumas superpotências, às notícias sobre o caos na saúde e uma ressecção econômica ainda sem precedentes, ganham os jornais, as redes sociais e as conversas em volta das mesas. Em casa, claro.
O que causa divisão nas opiniões e gera uma enxurrada de memes sobre lockdowns (bloqueios) vertical ou horizontal (Dá um Google aí!).
Tema esse, apresentado em primeira instância pelo The New York Times e proferido no discurso do presidente Jair Bolsonaro na última terça-feira.
Apesar de achar que somos inteligentes o bastante para pensar nisso e naquilo (saúde e economia) em detrimento disso ou daquilo.
Não vou aqui entrar no mérito do certo ou errado, afinal, em tempos de tanta intolerância, se seu pensamento não é binário: esquerda ou direita, preto ou branco, vertical ou horizontal…
Você corre sérios riscos de ser rotulado como isentão, esquerdopata, bolsominion, coxinha, mortadela ou qualquer outra nomenclatura extremista.
Podendo ser ainda lançado na fogueira dos hereges pela inquisição moderna (que de moderna nada tem).
Dito tudo isso, vamos a ideia central de nossa conversa aqui, tentando entender sobre os impactos de todo esse pandemônio (perdoe-me o trocadilho) que estamos vendo na economia e na cadeia logística.
UMA CRISE NUNCA VISTA
O Coronavírus afeta diretamente cadeias globais de suprimentos, paralisa atividades, abala bolsas e interrompe a produção.
Nós podemos dizer que vivemos para contar aos nossos netos que vimos shoppings, lojas de rua, empresas, indústrias, academias, cidades inteiras e até países fechando suas portas.
Cá pra nós!
Se antes dessa pandemia alguém te falasse que a novela das oito seria cancelada? O domingão do Faustão passaria reprises? Partidas de futebol por todo o mundo seriam desmarcadas? Turnês de bandas famosas em estádios seriam cancelados? Que os teatros da Broadway e até a Disney seriam fechados? E pior, igrejas teriam sua programação de cultos suspensas, você acreditaria?
Nem eu.
Diria logo que o sujeito só podia estar delirando, pois, estamos diante de algo jamais visto entre os viventes.
No entanto, não se trata de um delírio.
É fato.
É o que estamos vendo e vivenciado na pele e na prática.
O IMPACTO DA PANDEMIA NA ECONOMIA E NA CADEIA LOGÍSTICA
O Banco Central (BC) já derrubou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que de expansão de 2,2% para zero.
No entanto, muito setores se prepararam e esperam retração econômica.
Algo natural, pois devido a disseminação do covid-19 em âmbito global, muitos países vem restringindo a circulação de pessoas como forma de retardar a disseminação do vírus e, dessa forma, reduzir a sobrecarga sobre os sistemas de saúde locais.
Ações necessárias para salvar vidas, mas que tem como efeitos colaterais a desaceleração e e, em muitos casos a paralisação de alguns setores da economia.
Importação e exportação de cargas:
Com o envio de mercadorias comprometido, armazéns e portos ficam cheios. O fluxo de navios partindo e chegando caem drasticamente. Causando assim, contração não só na chegada de produto acabado, mas também de insumos. O que prejudica pólos produtores por todo o país, a exportação e consequentemente retrai o comércio.
Acordos comerciais:
Muitos países estão com suas fronteiras fechadas. O que freia viagens de negócios entre Brasil e parceiros comerciais, comprometendo negociações econômicas e a logística de abastecimento de cadeias de suprimentos no Brasil e em seus parceiros.
Turismo:
Um setor que vem sofrendo perdas astronômicas na bolsa. Com a quarentena e diante da impossibilidade de ir e vir, as viagens cessam e o efeito cascata em toda cadeia é catastrófico para o turismo de negócios e de lazer:
- Passagens aéreas não são compradas;
- Carros deixam de ser alugados;
- Táxis e motoristas de aplicativo deixam de faturar;
- Hotéis grandes e pequenos estão vazios;
- Casas para temporada também;
- Companhias de seguro não vendem;
- Cidades que vivem do turismo sofrem recessão antecipada.
Setor aéreo de carga:
Com aeroportos quase fechado e com a restrição apenas de produtos essenciais, o setor sofre com reduções drástica em seus volumes e prestadores de serviços que tem como carro chefe demandas advindas do setor, são afetadas na mesma proporção.
Agronegócio:
Apesar de ser um dos setores menos afetados, não ficará de fora das perdas devido as quedas das importações. Ainda que grande parte do setor está posicionado em bens essenciais, o que pode minimizar os impactos no tocante a produção, ao considerar a exportação do produto final, voltamos novamente a queda nas vendas.
Vendas online:
Com a quarentena, os hábitos foram reconfigurados, assim o setor de vendas online registrou na primeira quinzena de março um aumento de 40% em relação a 2019. Algo natural, visto que as pessoas estão em casa.
Contudo, as entregas podem sofrer com o isolamento social. Visto que, o ciclo da compra é composto de manuseios e entregas que demandam mão de obra. As empresas terão que se reinventar para que a logística não seja um impeditivo. Vale dizer ainda que diante de demissões em massa como estamos vendo, as pessoas por medo do amanhã, tendem a segurar os gastos.
Transporte rodoviário:
Com setores produtivos em queda e lojas físicas fechando, o transporte de cargas é imediatamente afetado. Nesse cenário a logística dos transportes enfrenta dois extremos:
1. Alta demanda nos segmentos considerados essenciais como o alimentício, higiene pessoal e de medicamentos, porém, a falta de estrutura de apoio aos motoristas já é sentida.
2. Baixo ou zero volume nos setores considerados “menos essenciais” e sem mão de obra para produzir, como: automotivo, moveleiro, brinquedos, vestuário, decoração, construção e etc.
AINDA NÃO PASSAMOS PELO PIOR
Com a alta de dólar, quedas e instabilidade das bolsas, os preços na ponta sofrem variações. Influenciando diretamente no consumo. A desaceleração do consumo é gigantesca e tende a aumentar.
Se colocarmos em perspectiva as datas sazonais como páscoa, dia das mães e namorados, somada as perdas já acumuladas até aqui, talvez consigamos ter um vislumbre do que está por vir.
Algo catastrófico que gerará dezenas de milhões de desempregados.
A epidemia ainda está longe de ser controlada. Ela se espalha rapidamente por todo o mundo, atingindo todos os continentes. Já são mais de 100 países afetados.
Com estados e cidade declarando estado de emergência, atrelado ao apelo de que todos se tranquem em casa, e, ainda sem certezas sobre tempos de isolamento, não sabemos qual será o verdadeiro impacto e transformações no nosso estilo de viver e de fazer negócio.
É possível que a profecia de Raul Seixas, que já se cumpriu em partes, possa de fato ganhar escala global.
Que Deus nos ajude!
Até a próxima!
Achiles Rodrigues