Via de regra, a vida não está nem aí para o seu planejamento. Essa é uma lição aprendida muito, mas muito cedo mesmo, logo quando os problemas insistem em complicar nosso dia a dia.
Na logística então…
Logo nos primeiros dias em uma operação você compreende essa máxima na prática, na pele, no coração. E, cá pra nós: haja coração.
A carga não coube no caminhão. O entregador perdeu o agendamento. A conta frete estourou. O caminhão não tem a licença. O cliente devolveu a carga. O motorista deu no-show. Caminhoneiros estão em greve. A carga foi roubada. A operação está engarrafada por falta de espaço. O transportador está cobrando as diárias. A nota não faturou completa. O estoque está “furado”. O produto estava vencido. O caminhão não é rastreado. A carga tá parada no posto fiscal. Faturou com o imposto errado. Etecetera, etecetera e etecetera.
Contratempos corriqueiros da logística.
Na faculdade o profissional de logística aprendeu tudo sobre transporte, mercadoria, distribuição de produtos, planejamento, compras, negociação, estoque e matemática: como estatística, economia, finanças e probabilidade.
Ele certamente saberá calcular os prazos, o melhor custo benefício do material, a melhor maneira de transportar, se é necessário estoque grande ou não de acordo com o produto e os valores e saída do produto no mercado.
Mas e esses contratempos que aparecem?
Ele consulta a memória. Revisita as anotações. Pega os antigos livros e, de repente percebe que a solução pra esses problemas não estão lá. Ele até encontra o como fazer, de alguns desses processos, contudo, como resolver depois que deu errado não consta no protocolo.
Não se desespere ainda. Tá tudo dentro da normalidade.
A graduação nunca preparou profissionais para os problemas do mundo real. Apesar de se esforçar muito pra isso.
Quando saímos da faculdade achamos que estamos prontos, no entanto nos faltam competências que os americanos chamam de “soft skills”:
- Tato e trato com as pessoas;
- Inteligência emocional;
- Liderança;
- Trabalho em equipe;
- Falar em público;
- Negociar;
- Ler pessoas e ambientes e outras tantas.
Sobre isso escrevi mais profundamente aqui: Coisas que a faculdade não ensina, mas o mundo corporativo cobra caro. Não deixe de ler.
Existe uma travessia a ser feita ao sair da faculdade e ingressar no mercado de trabalho.
A TRAVESSIA
Podemos dizer que uma pequena ponte divide esses “dois mundos”. Desse modo, vamos nos apropriar da poesia do Racionais mc`s, que sabiamente diz que o mundo é diferente da ponte pra cá:
“Não adianta querer, tem que ser, tem que pá, O mundo é diferente da ponte pra cá, não adianta querer ser, tem que ter pra trocar. O mundo é diferente da ponte pra cá”…
Da ponte pra cá existe o mundo real. O mundo das intempéries. Da política. Do resultado.
Eu irei ajudá-lo a atravessar essa ponte. Não sozinho. Vou recorrer ao Barack Obama.
Na semana que escrevo esse texto ele esteve no Brasil em um evento chamado VTEX Day. Um dos maiores eventos de inovação digital do mundo.
O cara, como era de se esperar, surpreendeu positivamente.
Com um mote em educação, o 44º presidente americano falou da importância do investimento em educação, tecnologia e criatividade.
“Às máquinas vão fazer o trabalho repetitivo. Mas só as pessoas podem pensar e inspirar. Por isso temos que motivar os jovens a serem criativos. Os países que fizerem isso da melhor forma serão os mais bem sucedidos”.
O cara cobra em média US$400 mil doletas americanas por 90 minutos de palestra. Mas parece valer cada centavo. Entre tantas pérolas, da fala do Barack Obama capturei TRÊS INSIGTHS que sem dúvida nenhuma encurtarão o tamanho dessa ponte, facilitando muito sua travessia.
Bora lá?!
1 – UM BOM LÍDER SÓ TOMA DECISÕES MELHORES SE CONTAR COM UMA BOA VARIEDADE DE PESSOAS
Você só é tão bom quanto a equipe que você constrói. Garantiu o ex-presidente.
Estar em uma equipe plural, com variados backgrounds pode fazer toda a diferença em sua carreira.
“É junto dos bão que a gente fica mió”, era o que dizia Guimarães Rosa.
Pessoas diferentes de você veem o mundo de maneira diferente, assim, elas podem ver coisas que você não vê, melhorando a acuracidade dos acertos.
Portanto, como ninguém faz nada sozinho, ter uma equipe diversa: homens, mulheres, negros, brancos, nordestinos, sulistas, homossexuais e etc. Pode facilitar, e muito, na travessia.
2 – VOCÊ NÃO DEVE TER MEDO DE TER PESSOAS MAIS INTELIGENTES QUE VOCÊ NA EQUIPE.
Por ciúmes, medo de perder a posição ou mesmo por ego, fazemos cara de jogo e gostamos de aparentar ser o melhor da sala. Mas saiba de uma coisa: “Se você for o melhor da sala que está, você está na sala errada“.
Isso porque se já somos os melhores, iremos aprender com quem?
Estando em uma equipe sem perspectiva, profundidade, protagonismo (e que na maioria das vezes nem se dão conta disso) o que ganhamos com isso?
Podemos até nos sentir os astros da sala, contudo não haverá margem para evolução — seremos impreterivelmente o espelho desse meio.
Nós seres humanos somos precisamente produto do meio que vivemos. Goste você disso ou não. Seremos sempre, e, diretamente influenciados pelas opiniões, pontos de vista e atitudes das pessoas.
Logo, cerque-se de gente melhor que você. Obama disse que foi o que foi, pela equipe que tinha. E que em muitas ocasiões estava cercado de gente tão boa que nem sabia ao certo o que perguntar.
Nunca tenha medo ou preocupações de ter na equipe gente melhor que você.
3 – É PRECISO SE ACOSTUMAR A NÃO ACERTAR SEMPRE
Aqui está algo que me encanta, mas que, de determinado ponto de vista me amedronta.
O encantamento vem do fato de saber que as grandes mudanças no mundo acontecem no processo de tentativa e erro. É testando, provando, provocando, que encontramos as saídas para inovação. Logo, a palavra de ordem seria: não tenha medo de errar. Erre rápido, erre pequeno, até acertar o alvo.
Porém, o amedrontamento vem de saber que as empresas querem inovação, no entanto colocam pra fora os inovadores. Se quiser se aprofundar nesse tema escrevi um artigo bem bacana. Clica aqui.
Hoje, criatividade e inovação fazem parte da agenda de toda grande empresa. Pelo menos no campo das ideias. Só que como disse, o processo de inovação demanda tentativa e erro.
Se o ambiente não suporta falhas como poderão inovar?!
A pergunta pode ser retórica, mas exige uma resposta.
Segundo Obama, “as decisões são tomadas com base em probabilidade”:
— “Eu tinha que criar processos, testar ideais e teorias com base em dados e informações. Não podia ter certeza que estava tomando a melhor decisão, mas eu tinha que garantir que havia olhado tudo com cautela e cuidado para, naquele momento, fazer o que julgava ser o mais certo. Tinha que pensar em todas as variações, deixando o medo de lado”
Nunca vai haver uma resposta correta. É preciso decidir, escolher um caminho, testar. O que nem sempre dará certo.
Por outro lado, o presidente sugere que deve-se acompanhar todas as informações do mercado, dados e números do seu negócio.
Quando um problema surgir, você deve ser racional e calcular o que vale a pena fazer.
Em que podemos aplicar tudo isso pensando em logística?
É sério que fez essa pergunta?
Em tudooooo.
Como falamos, a grade curricular dos cursos, especialmente os de Logística, focam em preparar o futuro profissional para organizar, planejar e criar estratégias para as organizações, pensando no transporte, armazenamento de produtos e mercadorias, compras e estoque, supervisão e negociação com fornecedores.
O que é muito bom. Penso ser mesmo isso que esperamos. O problema está no que escrevi naquele artigo que sugeri acima.
“A academia fornece conhecimento, informação, formação. Saímos dela e acreditamos que estamos prontos, no entanto, logo virão os primeiros desapontamentos, decepções, desencantos, desencontros…
…o chefe dissimulado, a rádio peão, o jogo de puxar tapetes, falta de acuracidade entre o que aprendeu na teoria e aquilo que se vive na prática.
As indagações começam a surgir — não consigo gerar mudanças, inovação da medo, meu diretor não me entende, o dono não quer investir, não acreditam nos números, o time não me ouve, os motoristas me enganam.
As Leis são um escândalo, nada funciona. Os custos não batem, a conta não fecha, as pessoas não fazem. O mercado não ajuda, as vendas não acontecem, a sazonalidade acaba com a programação, a estimativa é um fiasco, o planejamento nem se fala…”.
De fato, “Da ponte pra cá antes de tudo é uma escola, minha meta é dez, nove e meio nem rola”.
Poético, não é?
Mais uma estrofe da já citada música dos Racionais. Que reverbera o que deve ser nosso desejo.
Quando a vida ignorar o seu planejamento, e vai. Estar ao lado de pessoas incríveis, mais inteligentes que você te dará a coragem necessária pra tomar as decisões que tem que tomar.
Afinal, a vida é feita de decisões.
Até a próxima!